Tiro prático e tiro com arco
Nada de violência. Armas também são usadas para prática de esportes que exigem concentração, disciplina e muita responsabilidade. É o caso do tiro com arco e do tiro prático (com arma de fogo). No Senado, três colegas – Rubens Vasconcellos, José Henrique Silva e Eurico Jacy Kopp Auler contam um pouco sobre suas experiências com esses esportes.
Arco e flecha
Quando se pensa em tiro com arco é provável vir à mente a imagem daqueles soldados romanos, por exemplo, ou de outros povos antigos em combate por um reino. Mas o esporte nada tem a ver com violência. A disputa do atleta é com ele mesmo, que a cada disparo, tenta superar a pontuação atingida pela flecha anterior.
No Brasil, o arco e flecha esportivo, com os materiais necessários e o regulamento da Federação Internacional de Tiro com Arco – FITA, chegou nos anos 1950, vindo de Lisboa, pelas mãos do comissário de vôo e idealista, Adolpho Porta. Desde então, o esporte se espalhou pelo país e conquistou muitos adeptos.
No Senado dois colegas da Secretaria Especial de Informática – Prodasen, praticam tiro com arco. E, apesar de trabalharem bem próximos, não houve influência direta de um sobre o outro. Rubens Vasconcellos conheceu o tiro com arco em 2003, num hotel em Maceió, enquanto aproveitava as férias. “Nunca tinha visto a prática desse esporte de perto e resolvi arriscar. Gostei tanto que ao retornar a Brasília procurei um instrutor e comecei a praticar”, conta. José Henrique Silva Sousa já sabia que o colega era praticante de tiro com arco, mas foi seu filho, à época com 11 anos, que, de certa forma, o levou a entrar em contato com o esporte. Para a surpresa dele, ao levar o filho para uma aula-teste, recebeu um convite especial: “O Felipe teve sua primeira aula, mas o professor mostrou-se interessado que eu também participasse como cadeirante, pois ele sempre quis formar equipes de pessoas com necessidades especiais (cegos, amputados, jovens com síndrome de Down, etc)”, lembra. Daí em diante (março de 2006), José Henrique não largou mais o arco e flecha.
Em Brasília, os arqueiros dispõem de apenas um lugar para praticar o esporte, uma área externa no Clube do Exército. Segundo Rubens, o local está aberto todos os dias e comporta treinos com distâncias de até 90 metros. Os iniciantes não têm que se preocupar com a aquisição do material. Arco, flechas, alvo, mira, braçadeira e outros apetrechos fazem parte das aulas e são fornecidos pelo instrutor. Mas se o praticante resolver participar de competições, pode ser interessante adquirir o próprio material.
Rubens, por exemplo, preferiu comprar os equipamentos porque mesmo com pouco tempo de prática, obteve bons resultados nas competições. Começou a treinar em 2003 e um ano mais tarde foi vice-campeão brasiliense e quinto colocado no Brasileiro. No ano passado, Rubens foi campeão brasiliense. O objetivo dele era integrar a equipe de arqueiros para representar o Brasil nos Jogos Pan-americanos deste ano, mas devido a problemas de saúde o atleta precisou se afastar dos treinos por seis meses. Conclusão: ficou de fora da cobiçada competição.
Mas ele não ficou só na prática do esporte. Rubens se engajou tanto que foi presidente da Federação de Tiro com Arco do Distrito Federal – Fetarco-DF e hoje é secretário-geral da Confederação Brasileira de Tiro com Arco – CBTARCO, sempre com os objetivos de auxiliar os atletas e de promover cursos e campeonatos. Ele conta que escolheu o tiro com arco porque lhe permite competir por longos anos. “É um esporte no qual o praticante está sempre tentando superar o próprio resultado. Exige concentração, disciplina e possibilita competir por muito tempo, pois não está restrito a idade, já que em uma única categoria disputam arqueiros entre 19 e 50 anos”, explica.
O outro arqueiro da Casa, José Henrique, que há exatamente um ano pratica o arco e flecha, já pode traçar sua evolução. “Comecei com 390 pontos. No campeonato de Belo Horizonte, em 2006, fiz 892. Nas últimas competições já passei dos 1000 pontos: 1022 na anterior e, agora em fevereiro, obtive 1040 pontos”, orgulha-se. Segundo as regras, a pontuação máxima a ser obtida são 1440 pontos (144 flechas, 36 para cada distância – 30, 50, 70 e 90 m, sendo 10 a pontuação máxima para cada flecha). Para este ano, o atleta pretende intensificar os treinos, elevar a pontuação e fazer bonito no próximo Campeonato Brasileiro, em Manaus. “E, aqui em Brasília, vou participar das etapas do nosso campeonato, mensais, que servem para fazer o ‘ranking’ na Fetarco-DF”, revela.
Na opinião de José Henrique, o arco e flecha também abriu portas para o exercício da solidariedade e do trabalho voluntário. Depois que ele começou a praticar o esporte, o clube de tiro do qual faz parte se associou a uma entidade sem fins lucrativos de apoio às pessoas com deficiência para a prática de esportes. “Com isto, acho que o número de cadeirantes e outras pessoas com deficiência atirando com arco e flecha vai aumentar muito aqui na cidade. Atualmente, acho que sou uma raridade em Brasília e até no Brasil, pois existem pouquíssimos arqueiros cadeirantes no nosso País”, diz.
Armas de fogo
Bem mais recente que o tiro com arco, o tiro prático demanda uso de armas de fogo de diferentes tipos. O objetivo pode ser considerado semelhante: acertar o alvo. Mas existem algumas diferenças entre os dois esportes.
O tiro prático tem várias modalidades e envolve percursos nos quais o atleta deve acertar alvos, alguns múltiplos outros em movimento, o que exige atenção, precisão, velocidade e potência por parte do atleta. “O tiro prático torna os movimentos e reações do praticante em “atos reflexos”, condicionando-nos ao controle da adrenalina que, muitas vezes, nos faz tremer até os joelhos. Imagine sair correndo, atingindo alvos e evitando outros com a maior rapidez possível, lembrando de onde estão posicionados e como aparecerão, da recarga necessária para completar a pista, dos procedimentos que são exigidos em cada uma delas, e junto com tudo isso, a atenção às regras de segurança, um juiz lhe observando e a platéia formada por seus concorrentes. Haja batimento…”, descreve Eurico Jacy Kopp Auler, servidor da Secretaria Técnica de Eletrônica – STEL e praticante do esporte.
O tiro prático existe em mais de 60 países. No Brasil, a antiga Associação Brasileira de Tiro Prático, hoje Confederação Brasileira de Tiro Prático, foi fundada em 1989. Por envolver o uso de armas de fogo, o interessado em praticar esse esporte deve cumprir obrigações legais: “para se registrar no Exército como atirador, o praticante deste esporte deve estar filiado a um clube, à federação com jurisdição sobre o seu domicilio, e à confederação nacional, na modalidade de tiro que pratica” (Portaria nº 004 – D Log, de 08 de março de 2001).
Desde que conheceu o tiro prático, em 1989, a convite de um amigo para assistir a uma competição no Estande dos Fuzileiros Navais de Brasília, Eurico começou a praticar o esporte e, desde seu início, coleciona histórias de sucesso. Os mais recentes foram: primeiro lugar no Campeonato Nacional de Tiro Prático 2003 e Campeonato Saque Rápido 2005. Nos campeonatos brasilienses, não houve chance para ninguém. É que Eurico foi campeão das últimas três edições. No último final de semana (24 e 25 de março), até o fechamento desta edição, Eurico participou da 2ª Etapa de Tiro Prático do DF e, como se pode imaginar, foi campeão!
Ex-judoca, Eurico optou pelo tiro prático porque, segundo ele, o esporte é dinâmico e faz o praticante usar habilidades intelectuais e físicas como concentração, raciocínio lógico, capacidade de memorização, condicionamento dos reflexos, rapidez de movimentos e controle emocional.
A competição e o fato de ter de superar adversários em frações de segundos também o conquistaram. Mas, para Eurico, além de todos os pontos positivos do tiro prático, existe ainda um motivo especial que explica a paixão dele pelo esporte: “Além de todos os benefícios tive o privilégio de poder compartilhar esses momentos com a minha família, já que minha mulher e minha filha mais nova também praticam o esporte. Passamos a estar mais juntos nos finais de semana e com os mesmos objetivos. Fizemos muitos amigos e conhecemos muitos países também”, revela Eurico.
Informe-se mais:
Confederação Brasileira de Tiro com Arco
Federação de Tiro com Arco do Distrito Federal
Confederação Brasileira de Tiro Prático